sábado, 8 de agosto de 2009

Lunar Park



Neste belíssimo livro, Bret Easton Ellis criou uma ficção que no início parece uma autobiografia, mas aos poucos Ellis torna-se personagem e narra uma história vigorosa onde não faltam suspense, críticas sociais, terror, romance policial e sobrenatural. O Ellis/personagem é um escritor viciado em drogas que descobre ter um filho com a atriz Jayne Dennis. Esta convida-o para reatarem seu relacionamento, com a condição de que ele construa uma relação com seu filho Robby. O texto é tão bom que pode dar-se ao luxo de em certos momentos lembrar o suspense de Stephen King, ou fazer alusão direta ao Peter Pan (crianças desaparecidas... terra do nunca..) tem até fantasma do pai (Hamlet?). Em certo ponto aparece um escritor como uma espécie de alterego do narrador, ou será o contrário? O texto é maravilhoso e aos poucos vai-se compreendendo que é a visão de um Ellis-narrador-personagem, totalmente envolvido com drogas, conquistas sexuais, álcool e principalmente seu “próprio umbigo”, que passa a perceber, por sua vez, o mundo de futilidades só equilibrado por calmantes, soníferos, estimulantes, antidepressivos e toda espécie de drogas possíveis onde ele próprio se insere. Ele tenta criar uma relação com o filho e a mulher e ao mesmo tempo não tem noção nenhuma do que ele está procurando. Bret nos apresenta uma bela metáfora do homem moderno. Um ser que está morrendo afogado, pelo que mais gosta, sem ter consciência disto, apenas uma sensação de um doce desespero. Não é um livro que precisa ser analisado ou compreendido. ELe nos conduz, suavemente por um emaranhado de sensações e é muito fácil emocionar-se profundamente com ele. Por fim, acredito que o objetivo do livro não seja este, mas ele me deixou pensando que normalmente não temos a mínima consciência de que somos tanto pais quanto filhos e muito raramente conseguimos realmente ver o que nossos filhos ou nossos pais enxergam quando olham ou olhavam para nós.

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No Sebo

Estupidez de arrepiar.

Um rapaz jovem entrou na livraria com uma expressão de quem não estava muito à vontade. Logo percebi que livros não eram a sua "praia", mas que seja: fui atendê-lo. – Vocês compram livros usados? Sim, respondi. É o que fazemos aqui quando não temos coisa melhor para fazer. –E quanto o senhor paga pelo livro velho? Expliquei que ele teria que trazer os livros ou que iríamos até seu endereço para fazer a avaliação. –Mas é só um que eu tenho. Interrompeu o rapaz. - E um amigo me explicou que é um livro muito raro. É um livro do Shakespeare, e é do tempo em que ele ainda escrevia em português. E foi além: -Só muito mais tarde é que ele aprendeu a escrever em inglês, sabe?Deve valer uma fortuna! Minha surpresa foi tamanha que só consegui dizer que “livros com tamanha raridade” eu não trabalhava e que ele precisaria procurar alguém mais especializado em Porto Alegre. O rapaz agradeceu e saiu. Só depois de rir muito é que me dei conta da maldade que cometi. Agora, fazer o quê?