domingo, 9 de agosto de 2009

Balcão da livraria





Stephen Hawking e o bigodão

Sábado sempre é um dia interessante. Ainda mais se estiver chovendo, frio e escuro. Não tinha ninguém na livraria quando entrou um gajo exatamente como o dia lá fora. Fechado, lúgubre, vestido com uma capa de chuva escura, um chapéu de feltro e exibindo um vasto bigode que tomava sem dúvida a metade do rosto e se contasse as sobrancelhas não sobraria nada para identificá-lo. Não falou nada. Andou entre as prateleiras olhando eventualmente para o alto identificando as estantes. Em poucos minutos dirigiu-se ao meu balcão com o “Universo numa casca de nós” nas mãos. Cumprimentei-o e tentei ser amável: - Grande sujeito esse Stephen Hawking. Belo livro. Acima do bigode enorme e logo abaixo das sobrancelhas dois olhos escuros e vivos cravaram-se nos meus e de dentro do bigode saiu uma voz amável, mas que parecia um trovão: - Veja! Disse-me ele abrindo o livro e mostrando-me as fotos de seu interior, folheando-o enquanto falava: -Galáxias, constelações, buracos negros, planetas, estrelas... Isto não é uma maravilha? - Concordei imediatamente. E ele: - Sabes qual é a única coisa que não combina com isso tudo? Nós. A raça humana. Aqui no nosso planeta está surgindo o começo do fim disso tudo. Lembro que sua mão estendeu-me duas notas. Dei o troco e fiz menção de pegar o livro de sua mão para pô-lo numa sacola mas ele recuou um passo, agradeceu e sumiu pela porta. Agora são dez horas desta manhã de domingo. Continua chovendo. Preciso ver o relatório das vendas de sábado no computador da livraria. Será que não sonhei isso?

2 comentários:

Lague disse...

Acho que daria um ótimo epsódio para a antiga série "ALÉM DA IMAGINAÇÃO"

Lague disse...

Não seria o Belchior???

ou o Olivio Dutra?

No Sebo

Estupidez de arrepiar.

Um rapaz jovem entrou na livraria com uma expressão de quem não estava muito à vontade. Logo percebi que livros não eram a sua "praia", mas que seja: fui atendê-lo. – Vocês compram livros usados? Sim, respondi. É o que fazemos aqui quando não temos coisa melhor para fazer. –E quanto o senhor paga pelo livro velho? Expliquei que ele teria que trazer os livros ou que iríamos até seu endereço para fazer a avaliação. –Mas é só um que eu tenho. Interrompeu o rapaz. - E um amigo me explicou que é um livro muito raro. É um livro do Shakespeare, e é do tempo em que ele ainda escrevia em português. E foi além: -Só muito mais tarde é que ele aprendeu a escrever em inglês, sabe?Deve valer uma fortuna! Minha surpresa foi tamanha que só consegui dizer que “livros com tamanha raridade” eu não trabalhava e que ele precisaria procurar alguém mais especializado em Porto Alegre. O rapaz agradeceu e saiu. Só depois de rir muito é que me dei conta da maldade que cometi. Agora, fazer o quê?